Certamente são diversos os lugares em União dos Palmares que podemos entrar em contato com a ancestralidade negra. O melhor de tudo é porque a cidade está localizada bem próxima à capital alagoana, cerca de 83 km. Já falei anteriormente sobre a Serra da Barriga e agora irei contar um pouco sobre a comunidade de remanescentes quilombolas do Muquém. Pois tão importante quanto visitar onde os quilombolas viveram é conhecer seus descendentes.
Antes de mais nada, o Muquém é uma das 68 comunidades remanescentes de quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares em Alagoas. Dessa forma está localizada à 5km do centro de União dos Palmares, próximo às margens do rio Mundaú. A princípio surgiu a partir do arrendamento de um terreno de 125 hectares por um casal que vivia num engenho. O local anteriormente funcionava como um mocambo do antigo Quilombo dos Palmares. Logo depois os filhos desse casal foram formando suas próprias famílias e povoando o território.
Arte do Muquém que dá vida ao barro
Nesse meio tempo seus moradores conseguiram manter vivos os costumes e tradições de seus ancestrais. Principalmente a produção de peças em cerâmica, que utiliza como matéria-prima o barro do rio Mundaú. Nesse sentido, se destacam os utilitários domésticos da Mestra Marinalva e as esculturas de Dona Irinéia. Além disso, elas são consideradas Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas, colecionam prêmios e estão presentes em galerias, feiras e exposições nacionais e internacionais.
A herança das danças
Da mesma forma estão vivas práticas culturais como as danças, pois existem grupos de capoeira e coco de roda na comunidade. A capoeira representa uma mistura entre dança, música e artes marciais pois foi criada pelos africanos. Enquanto que o coco de roda surgiu através do pisoteio da terra para construir a fundação das casas de taipa. De acordo com Albertina, a líder do quilombo, eventualmente ocorrem apresentações para os grupos de turistas mediante um agendamento.
A enchente do Rio Mundaú em 2010
Por outro lado, em 2010 ocorreu um dos fatos mais marcantes na história da comunidade: a enchente no rio Mundaú. Como resultado as casas foram destruídas e os moradores tiveram que viver em abrigos até a construção de um conjunto de casas populares próximo ao antigo Muquém. Foi um período muito difícil, pois perderam toda a produção artesanal e a fonte de renda da população.
Em contrapartida, a enchente também influenciou o imaginário popular. Afinal Dona Irinéia produziu uma de suas peças mais famosas: a jaqueira. Em suma, a obra retrata alguns de seus filhos e netos que ficaram pendurados em uma jaqueira para conseguir sobreviver a enchente. Semelhantemente aos seus familiares, Dona Irinéia e seu marido Antônio ficaram em cima de pedaços de madeira, sendo também representada pela artesã numa de suas obras.
Museu em homenagem à arte do Muquém
Logo após conhecer a comunidade indico que visitem o Espaço de Memória Artesã Irinéia Rosa Nunes da Silva. Pois no local está presente um rico acervo de peças elaboradas por artesãos da comunidade. Ou seja, é uma ótima oportunidade de entrar em contato com a arte do Muquém. Para que possam visitar o museu, vocês precisam ir ao Campus da UNEAL em União dos Palmares.
Por fim, irei deixar aqui o mini-documentário que fiz sobre turismo criativo em União dos Palmares.
Além da Serra / Direção: Mariana Cavalcante / Fotografia: Ramon Santos.
Informações sobre a arte do Muquém
Quilombola do Muquém
Endereço: Povoado do Muquém, s/n, União dos Palmares – Alagoas, CEP 57800-000.
Instagram Dona Irinéia: @irineiarosanunes
Espaço de Memória Artesã Irinéia Rosa Nunes da Silva
Endereço: Campus V UNEAL. BR 104, km 36, Bairro Industrial, União dos Palmares – Alagoas, CEP: 57800-000.
Instagram: @museumuquem