Entre lendas e ruínas no Leprosário da Praia do Francês

Talvez por sermos arquitetas uma coisa que adoramos é visitar edificações históricas, mesmo que sejam ruínas. Essas até nos atraem mais pois carregam aquele mistério e sentimento de nostalgia, o que nos deixa ainda mais curiosa sobre o que foi o lugar, quem viveu ali e o por que de terem sido abandonados. 

Aqui em Alagoas há bastante ruínas e algumas até hoje carregam mistérios sobre sua história, na minha opinião a mais icônica nesse sentido são as ruínas do Leprosário da Praia do Francês (confira o post que fizemos sobre essa praia). 

Fachada das ruínas do Leprosário. Foto: Virna da Hora.

Há duas versões sobre o que foram essas ruínas. A primeira é de que era um grande armazém, levantado pelos franceses e que recebeu esse nome com o intuito de afastar as pessoas do local e assim facilitar o contrabando de pau-brasil no porto do Francês. A segunda versão e a mais reconhecida é de que essa edificação foi construída pelos portugueses a fim de abrigar as pessoas doentes por lepra, que naquela época eram afastadas dos centros urbanos e renegadas pela sociedade por terem uma doença que era considerada contagiosa e incurável. 

Foto mostrando a estrutura que ainda resta do local. Foto: Virna da Hora.

Os historiadores acreditam que pelo histórico de doenças epidêmicas no Nordeste e pela estrutura de suas paredes, esta foi levantada no século XVIII quando o local era desértico e não oferecia risco de contagio para os moradores da Vila de Madalena (como era chamado na época). Trata-se do único lazareto de que se tem notícia em terras alagoanas. 

Considerando a primeira versão, com o fim do contrabando e fuga dos franceses, o monumento foi abandonado. Se considerarmos a segunda, com o avanço da saúde pública e o controle e desaparecimento da lepra a edificação se tornou desabitada e acabou com o tempo ficando abandonada, provavelmente pelo estigma e medo de que ainda haveria algum resquício de contágio. 

A história oficial conta que quando Antônio Coelho de Sá e Albuquerque assumiu a presidência em 1854, a província de Alagoas ainda se recuperava dos estragos causados pela febre amarela e cólera morbo e havia recebido do Governo Imperial do Brasil recomendações para adotar medidas sanitárias e preventivas, entre elas a construção de um Lazareto em local estratégico. Após a colaboração de uma comissão para a escolha do local, Sá e Albuquerque anunciou a escolha da costa do Porto do francês pelo fato das correntes dos ventos não chegarem aos povoados vizinhos e ancorar em porto seguro os navios que trouxessem doentes a bordo.  

Sá e Albuquerque esclareceu que a finalidade do lazareto era isolar em quarentena os passageiros procedentes de lugares com epidemias, onde receberiam medicamentos e a atenção de dois cirurgiões do corpo de saúde do exército. A partir de 1856 não se encontraram mais registros de atividade no lazareto, concluindo que a epidemia já estava controlada, assim o mesmo foi desativado e abandonado. De acordo com Thomas Espindola em Geografia Alagoana de 1871 este se tornou inviável por ser de difícil acesso e não oferecer cais para as atracações, o que dificultava a chegada de remédios, mantimentos e desembarque de pacientes e médicos. 

Vista aérea do leprosário e sua área. Foto: Wikipedia.

Um fato curioso é que a construção ficou conhecida como Leprosário, mas  não há registro de que o local tenha sido usado para o tratamento de hansenianos e sim de outras doenças da época como a peste, cólera e febre amarela.

A construção possui uma estrutura simplificada e bela, atualmente está totalmente danificada. Várias paredes e o teto caíram e as vigas de madeira também, a mata já tomou grande parte do espaço, porém ainda conserva sua fachada quase que em totalidade. É interessante que mesmo depois de mais de século desde sua origem o local permanece isolado, sem construções ao redor e cercado de natureza, quem pensou no isolamento acertou na escolha do lugar. 

Fachada ainda de pé. Foto: Virna da Hora.
Paredes do fundo. Foto: Virna da Hora.
Detalhe da estrutura em pedra. Foto: Virna da Hora.

Estrutura sendo tomada pela mata. Foto: Virna da Hora.
Parede lateral esquerda que caiu recentemente. Foto: Virna da Hora.
Sentada na estrutura de viga também recentemente caída. Foto: Virna da Hora.

O Leprosário fica em uma área de preservação ambiental na Praia do Francês e pode ser visto da praia mesmo, dependendo da parte que você se encontra (na área mais afastada onde ficam os surfistas). Existem três caminhos de acesso, dois pela praia e um por dentro da cidade que é o mais curto e o que eu vou ensinar a vocês. 

Para ir por pelo último é só colocar no GPS o endereço do Residencial Mexilhão, em frente ao residencial há um terreno vazio com bastante mata onde começa a trilha que leva ao leprosário. Basta seguir o caminho marcado da trilha no chão que em poucos minutos (cerca de 10 a 15min) você irá dar de cara com muita natureza e as ruínas do leprosário. É bom ir cedo pois é um local deserto na mata, ou seja, se escurecer não haverá muita iluminação e pode ser perigoso, para voltar basta seguir o mesmo caminho ou se preferir continuar em direção a praia. 

Frente do residencial Mexilhão. Foto: Virna da Hora.
Terreno vazio que dá acesso ao Leprosário. Foto: Virna da Hora.
Início da trilha. Foto: Virna da Hora.

A paisagem é triste pelo seu abandono e deterioração mas ao mesmo tempo bela, para os que gostam de programações diferentes e aventura vale a pena conhecer e imaginar qual a história que permeia esse local. Além disso como fica numa área mais elevada a vista da praia é linda e rende fotos muito bonitas.

Vista linda da praia e local isolado por natureza! Foto: Virna da Hora.

Dicas:

  • Recomendável apenas para adultos
  • Não acessível para deficientes ou pessoas com problemas de locomoção 
  • Fácil acesso

Informações:
Endereço do residencial Mexilhão: Rua Mexilhão 33, Praia do Francês, Marechal Deodoro/AL, CEP 57160-000

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