Passeio pelos trilhos do VLT

Hoje o tema é um pouco inusitado! Sempre estamos em busca de novos asuntos e curiosidades para  mostrar aos leitores do Projeto Alagoas, portanto vamos falar sobre um personagem que faz parte do dia a dia de muitos alagoanos: o VLT.

Inaugurado em 10 de outubro de 2011, o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) é uma nova versão dos antigos trens que circulavam pela cidade, e é graças a este que ainda se usa parte da malha ferroviária que se encontra em Alagoas. Infelizmente vários trechos desta e diversas estações ferróviarias estão abandonadas por todo o interior de Alagoas e quem é responsável pelo que restou é a CBTU (Companhia Brasileira de trens Urbanos) que atua em um trecho de aproximadamente 36km da estação do Jaraguá em Maceió até Lourenço de Albuquerque em Rio Largo, atendendo em média 11 mil passageiros/dia. 

Vista do interior do vagão. Foto: Acervo CBTU.

A fim de conhecer melhor, fizemos o percurso do VLT em uma sexta feira. A experiência não podia ter sido melhor, conhecemos um outro lado da cidade, um lado que foge do nosso cotidiano mas que é usado por centenas de trabalhadores que compram produtos para revender em seus bairros e por pessoas que trabalham em Maceió mas moram municípios adjacentes. 

Iniciamos nosso passeio na Estação de Trem (CBTU), pagamos a tarifa que custa R$ 1,00 e fomos recepcionados com toda a atenção por um dos funcionários da CBTU, Alexi, que nos contou um pouco da dinâmica da Estação, da história do VLT e do trem antigo. A Estação e seu percurso são os mesmos desde o tempo dos primeiros trens, e foi muito interessante imaginar tantas pessoas e tantas histórias que passaram por esse mesmo caminho, quase como uma viagem no tempo, na qual sentimos na pele um pouco do que era a antiga Maceió, quando o trem era o meio de transporte mais importante.

Bilhete do VLT. Foto: Acervo CBTU.
Rampa móvel do VLT. Foto: Acervo CBTU.

Vista do VLT. Foto: Acervo CBTU.

O antigo trem que é composto por uma locomotiva e seis vagões é utilizado atualmente pela população ribeirinha, sendo o principal meio de transporte para as catadoras de sururu da região metropolitana de Maceió. Com o percurso que margeia boa parte da Lagoa Mundaú são feitas duas viagens diárias possibilitando o transporte das marisqueiras e seus baldes de sururu. Além delas, esse trem que tem função social possibilita a locomoção da população de baixa renda que frequenta o mercado da produção e precisa transportar volumes consideráveis que não são permitidos nas viagens do VLT ou ônibus em virtude do conforto e higiene dos demais usuários. 

Marisqueira no trem do sururu (Trem social). Foto: Acervo CBTU.

Continuando nosso passeio, foi um percurso relativamente curto, cerca de uma hora e meia para ir e vir, do centro até Satuba, pois as últimas paradas estavam interrompidas, mas deu para sentir na pele uma Maceió diferente, passando por caminhos cheios de vegetação com vista para a lagoa, casas, o mercado e aquela sensação de que estávamos ao mesmo tempo em um lugar completamente diferente, e que por muitas vezes nos limitamos tanto aos mesmos caminhos que esquecemos do quanto existe na cidade e de quantas pessoas diferentes fazem parte dela. 

Essa locomotiva faz parte do conjunto de três locomotivas temáticas de Maceió recuperadas em 2006, com projeto gráfico desenvolvido pelo artista plástico e ferroviário Agélio Novaes, com colaboração do também artista Stanley Lima Sá na locomotiva Brasileirinha, essas são intituladas de: 
Brasileirinha 6007: Estilizada com as cores da bandeira para enaltecer o nosso patriotismo. Porém saiu de circulação em 2012 para rodar em Natal, sendo que até hoje se encontra abandonada no galpao da CBTU. 
Estrela Radiosa 6019: Estilizada com as cores  e desenhos da bandeira do Estado. 
Nordestina 6002 (recuperada em 2012): Estilizada com o nome e cores que representam a região, sol, jangadas, ondas e cores quentes é a caçula das locos temáticas.

Locomotiva Estrela Radiosa. Foto: Acervo CBTU.
Locomotiva Nordestina. Foto: Thathiana Oiticica.
Locomotivas temáticas. Foto: Lauro Neto.

            Pessoas essas que se mostraram super curiosas com nossa presença, mas de uma maneira positiva pois estavam o tempo todo dando sorrisos, cumprimentando e dispostas a falar do quanto o trem significava para elas. Foi muito importante para mim perceber que as pessoas tinham orgulho em falar do trem e mostrar que nós também nos importamos com ele e dar voz àquelas pessoas que muitas vezes se sentem esquecidas devido a nossa política e consequente urbanismo que em sua maioria tenta excluir e esconder essa dinâmica da cidade. Deu para perceber que as vezes as pessoas só precisam ser notadas, saber que alguém as escuta, pois uma atitude como essa, a principio pequena, faz a diferença no dia de alguém. Mostra que alguém ali se importa com a história delas. Foi muito importante sentir isso por que faz com que possamos olhar a cidade sob uma nova perspectiva e valorizar mais aquilo que foge do nosso cotidiano, e quem sabe fazer a diferença. 

VLT e locomotiva. Foto: Marcel Mateus.
Detalhes do trilho. Foto: Acervo CBTU.

            Outra coisa que me marcou no passeio foi saber que antigamente tínhamos Trem até Recife e imaginar o quanto seria maravilhoso que ainda o tivéssemos, o quanto facilitaríamos a vida de todos e quantas paisagens poderíamos desfrutar nesses caminhos. Mas infelizmente nosso Estado as vezes parece regredir, pois o VLT é um meio de transporte maravilhoso que deveria ter seu percurso em toda a cidade e ser incentivado pelos órgãos governamentais. 

            Outra curiosidade bacana é que o VLT não fica restrito ao uso de transporte público, ele vira local de festa e comemoração em determinadas ocasiões:

Trem do forró: Circula no mês de junho realizando o percurso normal, ao retornar faz uma parada no município de Satuba onde os passageiros podem sair para dancar e se divertir ao som das musicas juninas. No interior dos vagões os participantes também curtem bandas de forró ao longo do trajeto. Seu publico alvo são os funcionários públicos e turistas de outros estados.

Trem da Galera: Durante o Campeonato Brasileiro da 2ª divisão, quando há algum time alagoano participando, o trem funciona, em horário especial, trazendo torcedores de Rio Largo e Satuba, que não poderiam ir ao estádio, por conta do preço da passagem, que no ônibus custa caro e não compensa. O público-alvo são os torcedores dos municípios de Rio Largo e Satuba.

Trem das crianças: Circula no mês de outubro, com passeios diários para crianças das escolas públicas e particulares. O objetivo é conquistar os passageiros do futuro. O público-alvo são os alunos de escolas públicas e particulares

Natal dos Lindeiros: Durante o mês de dezembro, sempre em uma data que antecede o natal, é feita uma distribuição de brinquedos para as crianças que moram em regiões próximas à linha férrea. Os brinquedos são doados pelos próprios funcionários da CBTU, através de uma campanha interna. O objetivo é manter o bom relacionamento com as comunidades lindeiras, além de conquistar os passageiros do futuro. O público-alvo são as comunidades carentes, localizadas nas proximidades da linha. Ainda dentro do espírito do Natal dos lindeiros, são distribuídas cestas básicas, através de produtos arrecadados no evento chamado “Substation”, que acontece na noite de natal. 

Trem das crianças. Foto: Acervo CBTU.

            Além da diversão do momento, das conversas com o maquinista e passageiros, das curiosidades acerca do trem e sua história, foi uma experiência muito gratificante pois nos permitiu conhecer mais nossa cidade e ter a oportunidade de daqui pra frente divulgar a importância desse personagem, responsável por tantos momentos da história de Maceió. 

Dicas:

  • Bom para crianças
  • Acessível para deficientes
  • Fácil acesso
  • Para todas as idades

Informações:

Endereço CBTU: Rua Barão de Anadia, 121- Centro, Maceió/AL, 57020-630,
Horários e funcionamento: Site da CBTU.
Contato: (82) 2123-1700, Instagram: @CBTU.maceio, Face: /CBTU.maceio.

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