A arte de trançar fibras vegetais é uma das técnicas artesanais mais antigas da humanidade e se faz presente em diversos povos, afinal é um legado indígena. O Brasil é um dos países que mais mantém essa tradição viva, através dos milhares de artesãos. Essa arte teve início através da necessidade de produzir utilitários, como: cestaria, chapéus, tapetes, esteiras e armadilhas de caça, além de objetos de cunho ritualístico como máscaras, cocares, tiaras entre outros. Porém, ao longo do tempo as fibras vegetais também passaram a ocupar lugar na decoração e mobiliário, além de virarem objetos de desejo na indústria da moda.
A fibra vegetal utilizada muda de acordo com a vegetação nativa ou abundante de cada região, dessa forma o processo do fazer pode também variar. A forma, o desenho, cores e o tipo de ponto também variam e evidenciam a herança cultural, a habilidade e a criatividade tanto do artesão quanto da sua região. É um saber ancestral que carrega muita informação histórica e cultural.
De forma geral, o processo de produção começa com a extração das fibras, seleção, cozimento em soda cáustica ou vapor, secagem, entrelaçamento e acabamento. As fibras além de serem flexíveis são resistentes e depois de prontas ficam leves, o que facilita o transporte e justifica o fato desse saber ancestral ser tão utilizado até hoje. Em Alagoas as mais frequentes são as fibras das bananeiras, da taboa (planta aquática típica de brejos), do Ouricuri (espécie de Palmeira), dos pés de coqueiros e do cipó.
A tradição do enlace das fibras se mantém forte, principalmente, nas comunidades indígenas e quilombolas e também no meio rural, onde a prática faz parte do cotidiano e é uma das principais fontes de renda. São homens e mulheres que realizam essa arte, os homens costumam ficar com o processo de extração e as mulheres com o de tratamento e acabamento. É muito comum ver grupos de mulheres reunidas na frente das casas ou na casa de alguma trançando as fibras enquanto se divertem conversando e assim, repassam o saber de geração para geração.
Atualmente, é comum muitos artesãos já comprarem as fibras selecionadas de outros que apenas realizam o processo de extração e seleção, e muitas vezes tratamento. Restando assim, apenas o processo de entrelace e acabamento. Como a matéria prima vem da terra, a produção é sazonal pois depende do tempo da natureza de se recompor, dessa forma se tornou muito comum a compra de fibras, compensando o tempo que seria ‘’perdido’’. Porém, existem muitos artesãos que durante esse tempo de pausa procuram outras atividades como o trabalho nas lavouras.
Outra dificuldade enfrentada por aqueles que trabalham com a fibra é o mofo, comum durante o período de estocagem no inverno, já que as fibras demoram mais a secar. Muitos artesãos tem dificuldade em lidar com essa questão pela falta de conhecimento técnico ou estrutura, realidade que aos poucos vem sendo modificada. A forma de se trabalhar ainda é a mesma de sempre, usando agulhas, faca, pedra, paus, molambos e, no caso específico do chapéu, uma forma como molde para a cabeça. O processo de tingimento (quando há) também se mantém tradicional, utilizando-se anilina e levando ao sol para secar.
É verdade que fato de estar em alta na indústria da moda, fez com que a demanda por produtos de fibra vegetais aumentasse bastante. Algo muito positivo para os artesãos e motivo de formação de muitas associações e grupos produtivos aqui no Estado, isso permitiu uma melhor organização e consequentemente fonte de renda para os mesmos. Um dos melhores exemplos são as associações do Pontal de Coruripe, praia situada a 6km do município de mesmo nome, que concentra a maior quantidade de artesãs do Estado. Lá, a matéria prima usada é a haste do olho de Ouricuri, abundante na região e com rápida recuperação (leva apenas três meses para estar pronta para o próximo corte).
Outros locais com maior número de produção são: Feliz Deserto (Taboa), Piaçabuçu, povoado Marituba do Peixe em Penedo, reserva indígena de Pariconha e Igreja Nova (Ouricuri), Porto de Pedras (Talo do coqueiro), Povoado Serra das Viúvas em Água Branca (Cipó e Ouricuri), Maragogi e Atalaia (Fibra da bananeira). Mas são diversos artesãos ao longo do Estado que realizam essa arte, mantendo viva a tradição e trabalhando de forma sustentável.
INFORMAÇÕES
ÁGUA BRANCA
Associação das Mulheres Artesãs Quilombolas da Serra das Viúvas (Amaqui) – (82) 99974-3469
ATALAIA
Associação Fibra Chã – (82) 99818-7473, Instagram: @Fibrachaoficial
CORURIPE
Associação das Artesãs do Pontal de Coruripe – (82) 99379-3079, Instagram: @artesanato_ouicuri
Associação Pontal Art – (82) 99364-7886, Instagram: @Pontalart
FELIZ DESERTO
Associação dos Artesãos de Feliz Deserto – (82) 99317-8586, Instagram: @artesanato_taboa
IGREJA NOVA
Grupo das Mulheres Quilombolas do Povoado Palmeira dos Negros – (82) 9817-86918
MARAGOGI
Associação Mulheres de Fibra dos Assentamentos de Maragogi (Amfama) – (82) 98829-5912, Instagram: @mulheres.fibra
PORTO DE PEDRAS
Grupo Belas Artes – (82) 99361-1903, Instagram: @belasartesartesanatoal
Artes e Talos – (82) 99806-5444
MACEIÓ
MERCADO DO ARTESANATO
Endereço: Rua Melo Morais, número 617, Levada, Maceió – Alagoas, Brasil. CEP: 57020-330.
Telefone: (82) 3315-4774.
Horário de funcionamento: Segunda à sexta das 7hrs às 17hrs, sábado das 7hrs às 14hrs e domingo das 7hrs às 12hrs.
Gostei muito das informações obtidas sobre as fibras vegetais. Parabéns!