Muquém antigo após a enchente do Rio Mundaú

Certamente quando vocês pensam em artesanato no município de União dos Palmares, a primeira coisa que nos vem a mente é a Comunidade de Remanescentes Quilombolas do Muquém, que inclusive já fizemos um post falando sobre.

O que muitos desconhecem é que a atual comunidade não corresponde à original. O fato ocorreu em 2010, quando a grande enchente do rio Mundaú destruiu parte das casas e muitos moradores tiveram que socorrer às arvores e pedaços de tronco no local para sobreviver ao incidente.

Dona Irinéia às margens do rio Mundaú. Foto: Mariana Cavalcante.

Esse episódio foi retratado em uma das obras da Mestra Irinéia: A Jaqueira. A artesã representou as pessoas que ficaram penduradas na árvore durante horas, incluindo três filhas suas. Dona Irinéia e seu marido Antônio sobreviveram em cima de alguns pedaços de tronco, que também é representado em uma de suas obras.

Dona Irinéia fazendo sua escultura da Jaqueira. Foto: Mariana Cavalcante.
Dona Irinéia na Jaqueira. Foto: Mariana Cavalcante.

Alguns anos após o incidente, um conjunto de casas foram entregues aos moradores próximo ao Muquém antigo, que corresponde ao local em que a comunidade está situada nos dias atuais. Recentemente fui visitar Dona Irinéia em sua casa e fiz o convite de irmos ao Muquém antigo para que ela nos contasse sua versão sobre os fatos.

Dona Irinéia aceitou o convite na hora, fazia aproximadamente dois anos que ela não visitava sua antiga comunidade. O percurso é muito perto, ao invés de dobrar à direita para entrar na comunidade é só seguir reto. Fizemos o trajeto de carro pois a artesã já tem idade avançada e não pode realizar muitos esforços, mas para quem desejar é possível chegar à pé.

Árvore localizada próximo à entrada do Muquém antigo. Foto: Mariana Cavalcante.
Eu e Dona Irinéia nos protegendo do sol. Foto: Mariana Cavalcante.

Nossa primeira parada foi na famosa Jaqueira, infelizmente a árvore chegou a morrer e hoje em dia restam apenas um pedaço de seu tronco e poucos galhos. Ao seu lado está localizada uma placa com o nome dos sobreviventes do episódio em seus respectivos lugares. Apesar da jaqueira ser a mais famosa, outras árvores ao seu redor foram utilizadas por diversos moradores que também constam na placa.

Eu, Dona Irinéia, sua filha Mônica e seu neto Antônio. Foto: Ramon Santos.
Placa com os sobreviventes da enchente em seus respectivos lugares. Foto: Mariana Cavalcante.
Netos de Dona Irinéia brincando de subir nas árvores do local. Foto: Mariana Cavalcante.

Após visitarmos as árvores seguimos para o rio Mundaú, local em que os artesãos coletavam o barro para fazer suas obras em cerâmica e os moradores tomavam banho, lavavam roupas e realizavam diversas atividades de seu cotidiano. Até chegamos ao rio, Dona Irinéia e sua filha Mônica relembraram sua antiga casa. A edificação não foi completamente destruída pela enchente, mas tiveram que demolir para receber a casa no Muquém novo.

Dona Irinéia olhando a paisagem do Rio Mundaú. Foto: Mariana Cavalcante.
Dona Irinéia olhando a paisagem do Rio Mundaú. Foto: Mariana Cavalcante.

Após nosso passeio no rio Mundaú, seguimos para o antigo centro comunitário que apesar de estar abandonado, ainda havia rastros do passado. A antiga sala de Dona Irinéia apresentava uma espécie de logotipo na entrada e na parede tinham assinaturas das pessoas que lhe visitavam na época. No mesmo local, visitamos o forno comunitário que era utilizado por vários artesão. Atualmente o local está abandonado e é utilizado como galinheiro.

Antigo Centro Comunitário. Foto: Mariana Cavalcante.
Interior do Antigo Centro Comunitário. Foto: Mariana Cavalcante.
Dona Irinéia posando na antiga fachada de sua sala de artesanato. Foto: Mariana Cavalcante.
Interior da antiga sala de artesanato de Dona Irinéia. Foto: Mariana Cavalcante.
Antigo forno comunitário utilizado para a queima do artesanato em cerâmica. Foto: Mariana Cavalcante.

No meio do caminho também pudemos ver algumas casas que ainda possuem moradores. Finalizamos nosso passeio e retornamos para o Muquém novo. Posso dizer que foi um passeio muito emocionante para mim, ainda mais por estar lá com pessoas que sobreviveram ao episódio. Vale a pena ir ao Muquém antigo para quem for visitar a atual comunidade. Ficamos tão focados em conhecer o artesanato local, que não paramos para refletir a história daquelas pessoas e o que a arte delas tem pra nos contar.

Dona Irinéia na fachada das casas do antigo Muquém. Foto: Mariana Cavalcante.
Casa que ainda existe no antigo Muquém. Foto: Mariana Cavalcante.

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