Para a construção deste post foi utilizada a pesquisa de patrimônio material e imaterial realizada pelo IPHAN e pelo MINC em 2016.
O post de hoje será muito especial, pois irei falar sobre uma manifestação cultural muito representativa para os alagoanos: O guerreiro, que foi originado a partir da junção do auto caboclo e do reisado. Não se sabe ao certo sua data de origem, mas segundo Théo Brandão deve ter ocorrido após o ano de 1920, já para Abelardo Duarte o folguedo deve ter iniciado após o ano de 1930.
O espetáculo ocorre geralmente entre os festejos natalinos e carnavalescos. Durante a apresentação é encenada uma luta entre dois partidos, os guerreiros e os caboclos, que inclui danças cantadas e marchas não cantadas. Originalmente a dança é composta por 25 partes, em que muitas demoram mais de 2 horas para serem executadas. Por esta razão, atualmente são apresentadas no máximo duas partes. Os instrumentos utilizados são a sanfona, o tambor e o pandeiro, além do apito que finaliza os cantos do guerreiro. A dança é guiada por uma narração com rimas improvisadas.
Os figurinos são semelhantes aos do reisado, porém são utilizados muitos brilhos, espelhos, miçangas, fitas e cores que chamam bastante atenção. Provavelmente você já deve ter visto uns chapéus enormes em formato de igreja, eles são utilizados pelos guerreiros durante as apresentações. As cores também tem um papel fundamental, o mestre veste vermelho com um manto amarelo, o contra-mestre veste azul, um embaixador de azul e o outro embaixador de amarelo e todos carregam uma espada. O general veste branco, o índio peri usa chapéu com penas e flecha e o caboclinho usa peruca, chapéu e também uma flecha. Já as mulheres utilizam uma saia de fitas coloridas, sendo que a lira e a rainha seguram um maracá.
Outra curiosidade é que essa manifestação apresenta o maior número de figurantes em relação aos demais folguedos. Eles são organizados em três filas: a primeira atrás do mestre, a segunda em sua lateral direita e a terceira em sua lateral esquerda. Cada lateral é representada por uma cor, de um lado amarelo e do outro verde ou azul.
GUERREIRO NOS MUNICÍPIOS ALAGOANOS
Em Atalaia existem os grupos “Guerreiro Treme Treme de Atalaia” e “Guerreiro do PET”, mas estão desativados pela falta de incentivos. O grande precursor do folguedo no município foi Val do Guerreiro, que teve um grupo com 27 personagens. Em Murici há dois mestres: Seu Luiz e Seu Miguel, que juntos compõem um grupo de 14 integrantes.
Em União dos Palmares o grupo de guerreiros era composto por idosos e liderado pelo Mestre Caboclo Lino, porém com sua morte em 2012 o grupo foi extinto. Seus trajes e acessórios foram guardados na Escola Municipal Salomé da Rocha e devido a uma iniciativa do folclorista e coreógrafo Edgar José Rosendo Tavares foi formado um novo grupo de guerreiros composto por alunos e ex alunos da escola. Em Capela o Mestre Cícero aprendeu com o Mestre Benon (Patrimônio vivo do Estado de Alagoas) e atualmente comanda um grupo composto por senhoras do CRAS da cidade. É através do grupo que consegue dinheiro para sobreviver e apesar da falta de apoio do poder público, realizam muitas apresentações no CRAS, clubes da cidade e em festas religiosas.
O primeiro grupo de guerreiro em Viçosa surgiu em 1977 liderado pelo Mestre Sebastião. No início as despesas eram custeadas pelo próprio mestre e posteriormente recebeu apoio das autoridades locais, mas com o seu falecimento em 2010, o grupo se desfez. Em seguida ocorreram algumas apresentações organizadas pela Mestra Quitéria, que mantêm guardadas vestimentas e tem registros de algumas das músicas da época. Há outro grupo na cidade composto por 37 pessoas da terceira idade e liderado pelo Mestre Naldo, inspirado pelo Mestre Sebastião e por seu pai, ex-integrante do grupo de reisado do Mestre Osório.